E dando continuidade aos relatos dos participantes da disciplina
ministrada conjugadamente com o Projeto Pirandello Contemporâneo, temos aqui
toda a experiência vivida e absorvida pela aluna do curso de Produção Cultural,
Ana Luíza Farias de Lacerda.
Os objetos cênicos escolhidos para a partitura “não têm por função dramatúrgica e cênica simbolizar, mas simplesmente estar presente e produzir situações de linguagem [...]” (p. 122).
A peça não segue uma sequência lógica. Não é nos formatos tradicionais, seguindo o estilo palco e plateia. Há interação entre ator e público. Para quem está fora, aqueles que não estudaram o assunto, a compreensão é muito difícil. No meu primeiro dia de aula, fui questionada sobre o que achei. Preferi me omitir, pois desconhecia esse estilo de teatro. Eu, particularmente, levei um bom tempo para me acostumar com esse modelo de peça. Após muitas discussões com a Anatália (Catu), consegui entender, um pouco, o que é teatro físico.
Pude notar, no decorrer das aulas, dos ensaios e até mesmo das apresentações, que, apesar da peça ter uma história, ter uma sequência, os movimentos, o tom da voz e o jeito de se expressar variavam conforme o ator e o público. Muitas vezes não prestei tanta atenção na peça em si e me foquei mais na reação do público, nas expressões faciais que faziam durante toda a apresentação. Pude perceber que se o público fica apático, não troca energia com os atores, a peça caminhava de um jeito; por outro lado, se o público troca essa energia, se envolve, a peça ia de outro jeito. Após a peça, eu focava minha atenção no que o público falava. Geralmente, eles não me viam por perto ao fazer comentários e críticas sobre o que acabaram de assistir. Comentários como “eu gostei, mas não entendi nada” e “eu não gosto desse tipo de peça” foram os mais ouvidos. O público não ficava “em cima do muro”, ou eles gostavam ou odiavam.
A peça prende a atenção, ainda mais que são muitas ações acontecendo ao mesmo tempo. A vontade de observar cada detalhe de todas as ações era enorme. Em vários momentos, durante as apresentações, me vi entretida à peça, esquecendo-me do meu trabalho.
Meu aprendizado foi, inicialmente, um aprendizado passivo. Apenas observava. Mas, a partir de certo momento, ele deixou de ser passivo e virou ativo. Não me envolvi atuando, mas participar da produção me fez envolver com a peça, também. A observação tinha que ser mais detalhada para saber o exato momento de, no meu caso, soltar a música. Cada peça era um novo desafio. Como disse, uma foi diferente da outra, então era preciso muita atenção. A música levava a peça, levava o corpo dos atores. (O Rodrigo me ajudou muito, ainda mais nas apresentações que, por causa do público, a minha visão foi bastante dificultada).
Aprendi, principalmente, que é preciso ter um bom entrosamento, em todos os “setores” da peça. O ator sozinho não faz a peça andar, mas se todos se ajudarem, se estiverem na mesma sintonia, as coisas acontecem; o diretor sozinho também não faz a peça; e, a produção, muito menos.
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